Pular para o conteúdo principal

Rio Madeira - Os custos da usina de Jirau


Telma Monteiro
A Suez divulgou ter feito uma consulta informal à Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, sobre a mudança física do local da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, e que a agência teria dado sinal verde. Segundo a empresa a usina poderia custar menos se fosse feita 9 km rio abaixo.
É preciso analisar de perto essa história de “custar menos”. O foco do leilão da usina de Jirau acabou ficando apenas na surpresa da sociedade com a pretensão do consórcio vitorioso em mudar o local da obra.
Como o projeto original não deverá sair do papel, pois não foi atestada sua viabilidade ambiental pela equipe técnica do Ibama e a licença prévia poderá ser anulada, qualquer mudança pretendida realmente causou surpresa por ser esdrúxula.
Por que Furnas Centrais Elétricas e Construtora Norberto Odebrecht quando apresentaram os estudos de viabilidade à Aneel em 2003, não deram as alternativas com os custos mais baixos? O consórcio vencedor do leilão de Jirau, liderado pela Suez, está mostrando agora que a opção feita originalmente é comparativamente mais cara. Com a mudança pretendida pela Suez seria possível escavar até cinco vezes menos rocha, por exemplo, o que, convenhamos, é muita diferença. E se há diferença nesse aspecto da obra civil é porque devem existir, então, diferenças em outros aspectos do empreendimento.
Isso não quer dizer que a Suez está sendo ética ao mostrar que sua opção pode reduzir os custos da obra (isso só os beneficiaria). A empresa se valeu apenas de uma ferramenta de mercado com possíveis informações privilegiadas para demonstrar tecnica e competentemente que é possivel baratear a obra civil. Com esse artifício tirou do páreo o principal e único concorrente e saiu vencedora.
Mais uma vez ficou patente que no Brasil só prevalecem os interesses financeiros de grandes empreendedores em detrimento dos recursos naturais e da sociedade, que acabaria pagando um preço mais alto pela energia. E o Tribunal de Contas da União - TCU? Essa é uma boa oportunidade para que ele se manifeste e se debruce sobre as planilhas, aproveitando a deixa para analisar novamente as contas da usina de Santo Antônio, também.
Pelo menos o leilão de Jirau serviu para mostrar que há diferenças de custos nos empreendimentos, conforme sua localização. Isso até fez com que o consórcio vencedor surpreendesse o mercado com um deságio maior que suplantou o do concorrente único e favorito. Pode-se questionar se essa diferença existiria, então, em todo o Complexo do rio Madeira, nas hidrelétricas, passando pelas eclusas até o sistema de transmissão.
Obras que podem custar mais do que deveriam continuam a prejudicar o meio ambiente, a competitividade do país e os bolsos dos brasileiros. A megalomania do governo e da Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, “mãe” desse PAC, pode dar magaprejuízos. Quem sabe se com esses fatos jogam uma pá de cal, definitivamente, nesse complexo hidrelétrico e repensam o modelo de geração hidráulica por mega usinas.

Comentários

  1. Prezada Telma,

    É com imenso prazer e deleite que leio mais esta cronica de sua autoria.
    A questão qeu fica é: será que não deveríamos ter energia MUITO mais barata?
    E as alternativas de geração sustentável? Será que ninguém vai acordar para isso?
    Durval de Lara Neto

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O que seria um projeto tecnicamente adequado, economicamente viável e ambientalmente equilibrado para o MT e a Infra S.A.? Certamente essa “metodologia” não está tratando disso na atualização dos estudos da Ferrogrão em que minimizam as chamadas subjetividades e maximizam os fatores só importantes para o projeto econômico.   Introdução para atualizar nossa memória sobre o projeto Ferrogrão O projeto da Ferrogrão envolve a construção de uma ferrovia com aproximadamente 933 km para ligar Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), para escoar, segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), até 52 milhões de toneladas de commodities agrícolas por ano. O traçado previsto no projeto é paralelo à BR-163 em que parte está dentro do Parque Nacional do Jamanxim, que é UC Federal. Além disso, o Tribunal de Contas da União (T...

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China Imagem: Portal Lubes Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O presidente Lula e Xi Jinping assinaram um acordo (20/11) no qual um dos itens propõe a construção de novas usinas nucleares com tecnologia considerada, no documento, avançada e segura, além de ser um marco importante na cooperação entre Brasil e China. O acordo promete fortalecer a capacidade produtiva e a segurança energética dos dois países, promovendo o desenvolvimento de tecnologias nucleares de ponta. Não esqueçamos que Angra 3 já está caindo de velha, antes mesmo de ser terminada. A construção da usina, localizada no estado do Rio de Janeiro, entrou na sua fase final com a montagem dos componentes principais e instalação do reator nuclear. Angra 3 está em obras desde 30 de maio de 2010 e enfrentou vários atrasos ao longo dos anos. As interrupções aconteceram em 2015 devido a uma revisão do financiamento e investigações ...

A “colonização dourada” idealizada pela China

A “colonização dourada” idealizada pela China   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   Houve ainda quem mencionasse que esses acordos ajudariam o Brasil a diversificar suas atuais fontes de tecnologias com origem em outros países e reduziriam sua dependência. Me parece mais uma troca de “dependências”, só que no caso da China seria muito mais abrangente e sem retorno. A China não transfere tecnologia em troca de nada. Geralmente Xi Jinping condiciona a investimentos disfarçados em parcerias comerciais. Empresas brasileiras teriam que participar de joint ventures , assimilar e depender da transferência de tecnologia como parte do acordo.   Mais de 100 países já aderiram à Nova Rota da Seda ou Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) [1] . Dos 100 países, 22 são da América Latina. Durante a visita de Lula à China, em abril de 2023, já haviam sido assinados vários acordos para reforçar a cooperação econômica entre os dois países. A China tem pressionado o Brasi...