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Construção de mega-barragens desconsidera o verdadeiro potencial dos rios


Hidrelétricas como Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira ou Belo Monte no Xingu são projetos inaceitáveis hoje, mesmo que se caia na armadilha de discutir de onde virá a energia elétrica para suprir a demanda do futuro. Estudos do potencial hidrelétrico dos rios da Amazônia estão numa espécie de fila na Aneel, em fase de aprovação sem que sejam considerados os seus verdadeiros potenciais – turístico, pesqueiro, produção de alimento – essenciais à sobrevivência dos povos indígenas e das populações tradicionais.

Saber os números que revelem a quantidade de energia que sobraria no Brasil, considerando inclusive o desperdício – falta de investimentos em programas de eficiência energética - e a perda, calculada em 20%, causada pelo sucateamento dos equipamentos e a sua obsolescência, poderia ser uma forma de (re)dimensionar e administrar a demanda futura.

Faltam dados que identifiquem quais os segmentos que estão demandando mais energia e falta transparência da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que foi criada para, entre outras atribuições dentro do plano energético nacional, promover o desenvolvimento de novas tecnologias de transmissão e a evolução tecnológica na oferta e no consumo.

Devem-se descontar, da futura demanda, as desnecessárias indústrias eletrointensivas que estão sendo planejadas para algumas regiões, como na do rio Xingu, em que a Alcoa quer construir uma grande beneficiadora de bauxita para fabricar alumínio, bem ali em Altamira. E um mega-porto, também. Para a empresa que exporta commodities às custas dos recursos naturais brasileiros a escolha não poderia ser outra, considerando que a usina de Belo Monte poderia suprir de energia suas necessidades.

O Brasil já está todo eletrificado com os sistemas isolados agora ligados ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Qual seria a verdadeira projeção do consumo para uma condição de aumento de população de aproximadamente 2% ao ano? A Aneel continua trabalhando com índices de crescimento da demanda irreais calcados em contas mirabolantes que estão no último Plano Decenal de Expansão de Energia (PDEE) 2008/2017.

A era das mega-barragens já passou e as que ai estão não funcionam em plena capacidade pela falta de cuidados, de manutenção, de “upgrade” de tecnologia e repotenciação. Isso se soma aos projetos de “mitigações” ambientais que, deixados ao sabor da fiscalização de órgãos ambientais, acabam caindo no esquecimento. Os armários estão cheios de cadáveres prontos a cair sobre a sociedade na forma de crimes ambientais, passivos sociais e prejuízos causados pela opção por hidrelétricas. Veja-se Balbina, Tucurui, Cana Brava, Barra Grande.

Os verdadeiros potenciais dos rios foram destruídos pelas obras de construção das represas. Não dá mais para continuar caracterizando a geração hidrelétrica como “renovável” já que não se renova a ictiofauna prejudicada pelos reservatórios e barramentos, as características físico-químicas da água, os ecossistemas a jusante ou as vidas das pessoas que sofrem os impactos. (TM)

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