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Brasil financiará estrada em santuário etnoecológico na Bolívia



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Lula e Evo Morales assinaram em 22 de agosto de 2009 um protocolo onde o Brasil se compromete a financiar a construção de uma estrada com 306 km entre Villa Tunari e San Ignácio de Moxos, no âmbito do projeto de integração sul-americana. A região de Villa Tunari é o reduto político e estratégico para Evo. Está no departamento de Cochabamba e é um santuário ecológico riquíssimo, com parques nacionais e territórios indígenas. É lamentável e desesperador que se pretenda construir uma estrada nesse lugar conhecido como o portal de entrada para a Amazônia boliviana.

O trecho que vai ligar Villa Tunari a Moxos será construído pelas empreiteiras brasileiras Norberto Odebrecht e Camargo Corrêa. Recursos no valor de 332 milhões de dólares já haviam sido aprovados no Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (COFIG) na reunião de março de 2009. Em janeiro de 2009, no Encontro Fronteiriço, o Brasil confirmou o propósito de financiar projetos prioritários de infra-estrutura do Plano Nacional de Desenvolvimento do Estado Plurinacional da Bolívia, como esse de Villa Tunari.


A estrada pode ser um desvio da interoceânica com disfarce etnoecoturístico, como tudo indica. Fato curioso, no entanto, é que ela não consta de nenhum documento da Iniciativa de Integração para a Infra-estrutura Sul Americana (IIRSA) ou do eixo Brasil/Bolívia/Peru. Algumas características minerárias da região podem ter sido relevantes para o projeto, como a presença do asbesto em grande quantidade e de pedras preciosas.

Lítio

Dentre os atos assinados pelos presidentes, em Villa Tunari, consta uma cooperação tecnológica para a exploração do lítio, mineral indispensável na fabricação de baterias de instrumentos eletrônicos e cobiçado como o combustível do futuro pelas grandes empresas internacionais voltadas para a tecnologia do carro elétrico. A mineradora Vale, de olho no mineral estratégico para a indústria automobilística[2], anunciou que está disposta a investir 1,5 bilhão de dólares em Salar de Uyuni, a maior reserva de lítio do mundo, na maior planície salgada do mundo e um santuário de belíssimas paisagens.
As comunidades da região, para impedir que tanta riqueza caísse em mãos de grandes empresas multinacionais, elaboraram um projeto de extração de lítio através de uma usina piloto de processamento e tiveram o apoio de Evo Morales. (TM)


[1] Fonte: Assessoria de Imprensa do Gabinete – Palácio Itamaraty http://www.mre.gov.br/portugues/imprensa/nota_detalhe3.asp?ID_RELEASE=6738
[2] Fonte: AmbienteJá, ANSA / CLAES / OMAL

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