Pular para o conteúdo principal

Polêmica cerca leilão de energia de hoje


Foto: Xingu Vivo


O leilão de energia marcado para hoje, no qual serão licitados projetos de geração que ficarão prontos em cinco anos (A-5), está cercado de polêmicas. As críticas envolvem desde as três térmicas a carvão que serão licitadas até a hidrelétrica de Sinop, o único projeto de geração hidráulica de grande porte cadastrado no leilão.


A reportagem é de Claudia Facchini, Rodrigo Polito e Andre Borges e publicada pelo jornal Valor, 29-08-2013.

A usina de 400 megawatts, prevista para ser construída no rio Teles Pires, em Mato Grosso, é objeto de uma ação judicial movida em conjunto pelo Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público Estadual (MPE) que ainda não teve o seu julgamento de mérito. Os procuradores alegam que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) da hidrelétrica contêm vícios e não levam em consideração os danos que serão gerados pelo reservatório do empreendimento. Apesar de a Advocacia-Geral da União (AGU) ter conseguido derrubar as alegações, a Justiça ainda precisa tomar uma decisão final sobre o assunto, o que pode tirar o apetite dos investidores.

Por enquanto, já confirmaram que vão participar do leilão da usina a Copel, em parceria com a chinesa State Grid, aCemig, e a Eletrobras. O presidente de uma grande geradora de energia, que decidiu ficar de fora, considera o consórcio State Grid-Copel como o favorito na disputa por Sinop, devido às sinergias com a hidrelétrica de Colíder, que está sendo construída pela paranaense a 120 quilômetros.

A Eletrobras, que vai participar do leilão com as subsidiarias Chesf e Eletronorte, e a Cemig não disseram com quem vão se associar. Um analista do setor não descarta a possibilidade de que as duas formem um consórcio, apesar dos atritos da estatal mineira com o governo federal.

O preço-teto para a energia vendida por Sinop, de R$ 118 por MWh, é considerado baixo e causou controvérsia, por ser inferior aos R$ 126 por MWh fixados em dezembro, quando a usina foi leiloada pela primeira vez, sem atrair interessados. "O deságio, se houver, será muito pequeno", diz o consultor João Carlos Oliveira Mello. Mas ele prevê que, desta vez, Sinop sai do papel.

Outro aspecto sensível do leilão são as três térmicas a carvão. Abominada por vários anos, essa fonte de energia voltou a ser incluída no planejamento energético pelas autoridades do setor elétrico. Para viabilizar as usinas térmicas, o governo excluiu as eólicas do leilão, elevou o preço-teto para R$ 140 por MWh e ainda concedeu, de última hora, um estímulo adicional ao carvão, cuja aquisição ficará isenta de PIS e Cofins. O decreto que zerou as vendas de carvão foi publicado na terça-feira.

A decisão desagradou a Unica (União da Indústria de Cana de Açúcar), que afirma que as vantagens concedidas às usinas a carvão vão tirar a competitividade das térmicas movidas a biomassa. O preço de R$ 140 por MWh também não é considerado atraente.

Segundo os analistas da firma de consultoria FG/Agro, Gustavo Correa e Marcelo Mishida, o preço-teto é inferior ao que foi fixado em 2010, a última vez em que foi licitado um número maior de usinas térmicas. Na época, a energia foi vendida por um valor que, se corrigido pela inflação, ficaria hoje entre R$ 170 e R$ 180 por MWh.

Ao todo, foram habilitados 37 projetos, sendo 16 termelétricas a biomassa, 3 termelétricas a carvão, 1 termelétrica a gás natural, 15 Pequenas Centrais Hidrelétricas e 2 hidrelétricas: Sinop e Salto Apiacás. Juntos, esses projetos totalizam 3.535 MW de potência.

Veja também:
MST bloqueia BR-163 e pede cancelamento de leilão de hidrelétrica em Mato Grosso

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O que seria um projeto tecnicamente adequado, economicamente viável e ambientalmente equilibrado para o MT e a Infra S.A.? Certamente essa “metodologia” não está tratando disso na atualização dos estudos da Ferrogrão em que minimizam as chamadas subjetividades e maximizam os fatores só importantes para o projeto econômico.   Introdução para atualizar nossa memória sobre o projeto Ferrogrão O projeto da Ferrogrão envolve a construção de uma ferrovia com aproximadamente 933 km para ligar Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), para escoar, segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), até 52 milhões de toneladas de commodities agrícolas por ano. O traçado previsto no projeto é paralelo à BR-163 em que parte está dentro do Parque Nacional do Jamanxim, que é UC Federal. Além disso, o Tribunal de Contas da União (T...

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China Imagem: Portal Lubes Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O presidente Lula e Xi Jinping assinaram um acordo (20/11) no qual um dos itens propõe a construção de novas usinas nucleares com tecnologia considerada, no documento, avançada e segura, além de ser um marco importante na cooperação entre Brasil e China. O acordo promete fortalecer a capacidade produtiva e a segurança energética dos dois países, promovendo o desenvolvimento de tecnologias nucleares de ponta. Não esqueçamos que Angra 3 já está caindo de velha, antes mesmo de ser terminada. A construção da usina, localizada no estado do Rio de Janeiro, entrou na sua fase final com a montagem dos componentes principais e instalação do reator nuclear. Angra 3 está em obras desde 30 de maio de 2010 e enfrentou vários atrasos ao longo dos anos. As interrupções aconteceram em 2015 devido a uma revisão do financiamento e investigações ...

A “colonização dourada” idealizada pela China

A “colonização dourada” idealizada pela China   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   Houve ainda quem mencionasse que esses acordos ajudariam o Brasil a diversificar suas atuais fontes de tecnologias com origem em outros países e reduziriam sua dependência. Me parece mais uma troca de “dependências”, só que no caso da China seria muito mais abrangente e sem retorno. A China não transfere tecnologia em troca de nada. Geralmente Xi Jinping condiciona a investimentos disfarçados em parcerias comerciais. Empresas brasileiras teriam que participar de joint ventures , assimilar e depender da transferência de tecnologia como parte do acordo.   Mais de 100 países já aderiram à Nova Rota da Seda ou Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) [1] . Dos 100 países, 22 são da América Latina. Durante a visita de Lula à China, em abril de 2023, já haviam sido assinados vários acordos para reforçar a cooperação econômica entre os dois países. A China tem pressionado o Brasi...