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Aviso dos Munduruku: "não aceitamos trocar nosso rio"


Lideranças Munduruku - Foto: Telma Monteiro
O Seminário de Formação de Militantes do Movimento Tapajós Vivo, que aconteceu em Jacareacanga, no Pará, foi encerrado com um aviso do povo Munduruku ao governo, sobre o plano de construção das cinco hidrelétricas nos rios Tapajós e Jamanxim. Uma dura crítica tornou a carta ainda mais contundente:

"Queremos saber por que o governo fala que se as barragens forem construídas, vai ter dinheiro para a saúde e a educação dos indígenas. Por que as populações indígenas não podem ter saúde e educação sem a construção das barragens? Nós não temos direito a isso?"
Leia a carta: 

Carta Aberta dos povos do Tapajós ameaçados pelo Complexo Hidroelétrico do Tapajós

Nós, lideranças Munduruku e colaboradores não indígenas participantes do Seminário de Formação de Militantes do Movimento Tapajós Vivo, realizado na cidade de  Jacareacanga, nos dias 30 de novembro, 1 e 2 de dezembro de 2012, com apoio do Movimento Tapajós Vivo, Fórum da Amazônia Oriental, Ação Mundo Solidário, Congregação  das Irmãs Passionistas de São Paulo da Cruz e Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição vimos a público, através desta Carta 
Aberta dizer que:

 ·        Essas barragens não servem para nós, povos e populações do Tapajós, por isso entendemos que não tem porque branco mexer na nossa água. Lembramos que pela Constituição Federal, o  governo não é dono de tudo. A terra e a água tem dono. É o índio. E não vamos deixar nenhum branco destruí-la.

 ·         Deixamos bem claro que aqui, não aceitamos trocar nossa vida, nosso rio por dinheiro nenhum. Aqui no Tapajós ninguém quer morrer e vamos lutar para que nada de mal nos aconteça
 ·         Avisamos a todos os brancos que não vamos deixar brancos entrarem em nossas aldeias para fazerem pesquisa. Se algo acontecer a estas pessoas, será de total responsabilidade do governo federal e das empresas.
 ·         Queremos saber por que o governo fala que se as barragens forem construídas, vai ter dinheiro para a saúde e a educação dos indígenas. Por que as populações indígenas não podem ter saúde e educação sem a construção das barragens? Nós não temos direito a isso?

 ·        Sabemos que se as barragens forem construídas, tudo o que nós temos vai sumir. Vamos ter que sair de nossas terras. Como vamos criar nossos filhos?

 ·         A partir de agora, vamos reunir com os caciques e vamos fortalecer ainda mais a  resistência. Vamos nos unir a ribeirinhos e pescadores, quilombolas e formaremos um grande grupo para agir no impedimento da construção das barragens;


Reafirmamos nossa solidariedade aos povos atingidos por barragens no Brasil e na Panamazônia e nosso compromisso com a Aliança dos 4 Rios.

Esperamos que esta conversa não fique aqui, apenas em Jacareacanga (PA). Queremos que o Brasil e o mundo saibam que somos contra as barragens e que lutaremos até o fim para proteger nossas terras, nossos rios e nossas famílias.

NÃO ÀS HIDROELÉTRICAS NO RIO TAPAJÓS!
NÃO ÀS HIDROELÉTRICAS NOS RIOS AMAZÔNICOS!
VIVA NOSSOS RIOS, VIVOS E SEM BARRAGENS!
VIVA OS NOSSOS RIOS, VIVOS PARA SEMPRE!

Jacareacanga (PA), 02 de dezembro de 2012.

Assinam os 67 participantes do Seminário de formação de militantes do Movimento tapajós Vivo em Jacareacanga 

Comentários

  1. Todo apoio ao Povo Munduruku.
    Tapajós Vivo para Sempre!

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  2. Petição -> Presidenta Dilma Rousseff:

    NÃO às HIDRELÉTRICAS na AMAZÔNIA / SIM pra ENERGIA SOLAR e BIOCOMPATÍVEIS

    http://www.change.org/petitions/presidenta-dilma-rousseff-n%C3%A3o-%C3%A0s-hidrel%C3%A9tricas-na-amaz%C3%B4nia-sim-pra-energia-solar-e-biocompat%C3%ADveis?utm_campaign=friend_inviter_modal&utm_medium=facebook&utm_source=share_petition&utm_term=2591525

    ResponderExcluir
  3. Telma
    No texto expoe... onde vamos criar nossos filhos.. se nem escolas para ensino médio tem nas comunidades...por que vc não corre atraz de trabalho,educação e saude aos ribeirinhos...

    ResponderExcluir
  4. Enquanto isso, fatos de pavoroso suceder vem acontecendo nos setores de petróleo e energia elétrica que afetam diretamente o destino da amazônia. Por favor remomemore aquele post de sua autoria sobre o estado das linhas de transmissão. Por enquanto....
    GERAÇÃO DISTRIBUIDA E A REDUÇAO DE ICMS

    “O ICMS que incide sobre a eletricidade é calculado por um critério chamado tributação por dentro, no qual a base de incidência do imposto inclui o próprio imposto”. (instituto Acende Brasil).
    Por isso, a geração distribuída é o melhor caminho para se chegar a redução efetiva de tarifas que está quase toda concentrada na cobrança de ICMS pelos estados.
    A geração distribuída seria a maneira pela qual os estados produtores teriam de reter o consumo da energia por eles produzida já que a cobrança ocorre no destino e não na produção. É a maneira dos estados ganharem maior autonomia e se libertarem da tutela do poder central já que estão impedidos da cobrança nos produtos primários destinados a exportação (lei Kandir). Além disso, a geração distribuída concorre para a maior eficiência no uso final da energia como já vem ocorrendo voluntariamente em diversos setores para fugir ao controle do poder central e do elevado custo da energia.

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