Pular para o conteúdo principal

Usinas do Madeira, Belo Monte e a caixa preta

Telma Monteiro

Mais um ano está chegando ao fim. Dilma, pós Lula, assumiu a já esperada postura autoritária. Ela já dava sinais desde que foi ministra de Minas e Energia. Início do desastre, agora confirmação dele.

Em 1999, Furnas e Odebrecht fizeram a usina de Manso. Deu certo. Refiro-me à parceria. Ela serviu de base para o próximo empreendimento, o Complexo Madeira, em Rondônia. Uma das maiores empreiteiras do Brasil e a estatal mais blindada que já existiu idealizaram um megaprojeto. Barrar um dos principais afluentes do Amazonas parecia impossível. Não para eles.

Já em 2001, Lula se preparava para a campanha presidencial. Negociava com todos aqueles que poderiam, de uma forma ou de outra, viabilizar sua eleição. Cheguei a conhecer um influente empresário italiano e equipe que estavam no Brasil para conversar com a coordenação de campanha de Lula sobre Angra III. O próprio empresário me contou. Não acreditei. Ele voltou satisfeito para a Itália. Angra III sairia do papel, me disse. Saiu.

Furnas e Odebrecht também apresentaram o megaprojeto do Madeira para a equipe de Lula. Usinas do Madeira, projeto ambicioso para depois que o PT vencesse as eleições. No final de 2002, eleição ganha, a Aneel aprovou o Estudo de Inventário das usinas Santo Antônio e Jirau em tempo recorde. Promessa de campanha, promessa cumprida. Início de 2003, Dilma já ministra, convocou a diretora de Meio Ambiente de Furnas para formatar um novo modelo institucional de energia elétrica. O setor aprovava.

O EIA/RIMA do Complexo Madeira estava em elaboração. Para construir as usinas seria preciso obter, antes, a Licença Prévia do Ibama. O novo modelo de energia de Dilma e de Furnas garantiu isso. Estudos ambientais aprovados. Licença Prévia concedida. Aconteceu o leilão da UHE Santo Antônio e depois o de Jirau. Tudo conforme o ajustado.

Marina Silva, então ministra do Meio Ambiente, deixou-se convencer. Até acreditou que os impactos seriam mínimos. Está tudo aí agora para ela conferir. Argumentos de um governo que precisava pagar a fatura da eleição. Duas usinas num rio indomável como o Madeira estariam de bom tamanho para a empreiteira e para a caixa preta que é Furnas? Parece que não. Querem muito mais.

Muita história e bastidores de arrepiar há ainda para contar. Vou fazê-lo a partir de 2012. Doa a quem doer (parece que já ouvi isso).  Até hoje os episódios escandalosos e os conflitos envolvendo as usinas do Madeira, se sucedem. Tudo previsto e apontado na época.

Agora enfrentamos novamente o mesmo autoritarismo hidropredador para a Amazônia com o projeto Belo Monte, os processos das usinas no rio Tapajós e das usinas no rio Teles Pires. Oito anos de Lula e quase um de Dilma. Tudo igual.

Será que a sociedade brasileira vai acordar? 

Comentários

  1. Como disse um estadista europeu "brazil não é um pais sério" Faltou ele dizer que o "brazil não é um pais!"

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O que seria um projeto tecnicamente adequado, economicamente viável e ambientalmente equilibrado para o MT e a Infra S.A.? Certamente essa “metodologia” não está tratando disso na atualização dos estudos da Ferrogrão em que minimizam as chamadas subjetividades e maximizam os fatores só importantes para o projeto econômico.   Introdução para atualizar nossa memória sobre o projeto Ferrogrão O projeto da Ferrogrão envolve a construção de uma ferrovia com aproximadamente 933 km para ligar Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), para escoar, segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), até 52 milhões de toneladas de commodities agrícolas por ano. O traçado previsto no projeto é paralelo à BR-163 em que parte está dentro do Parque Nacional do Jamanxim, que é UC Federal. Além disso, o Tribunal de Contas da União (T...

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China Imagem: Portal Lubes Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O presidente Lula e Xi Jinping assinaram um acordo (20/11) no qual um dos itens propõe a construção de novas usinas nucleares com tecnologia considerada, no documento, avançada e segura, além de ser um marco importante na cooperação entre Brasil e China. O acordo promete fortalecer a capacidade produtiva e a segurança energética dos dois países, promovendo o desenvolvimento de tecnologias nucleares de ponta. Não esqueçamos que Angra 3 já está caindo de velha, antes mesmo de ser terminada. A construção da usina, localizada no estado do Rio de Janeiro, entrou na sua fase final com a montagem dos componentes principais e instalação do reator nuclear. Angra 3 está em obras desde 30 de maio de 2010 e enfrentou vários atrasos ao longo dos anos. As interrupções aconteceram em 2015 devido a uma revisão do financiamento e investigações ...

A “colonização dourada” idealizada pela China

A “colonização dourada” idealizada pela China   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   Houve ainda quem mencionasse que esses acordos ajudariam o Brasil a diversificar suas atuais fontes de tecnologias com origem em outros países e reduziriam sua dependência. Me parece mais uma troca de “dependências”, só que no caso da China seria muito mais abrangente e sem retorno. A China não transfere tecnologia em troca de nada. Geralmente Xi Jinping condiciona a investimentos disfarçados em parcerias comerciais. Empresas brasileiras teriam que participar de joint ventures , assimilar e depender da transferência de tecnologia como parte do acordo.   Mais de 100 países já aderiram à Nova Rota da Seda ou Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) [1] . Dos 100 países, 22 são da América Latina. Durante a visita de Lula à China, em abril de 2023, já haviam sido assinados vários acordos para reforçar a cooperação econômica entre os dois países. A China tem pressionado o Brasi...