Pular para o conteúdo principal

Jirau e Santo Antônio: exemplos desastrosos de barragens na Amazônia

Cachoeira do Teotônio no rio Madeira
Foto: Durval Lara
Dia Internacional de Luta Contra as Barragens
 Telma Monteiro

Problemas de desmatamento, falta de compromisso com as populações que sofrem o impacto do deslocamento compulsório, violações dos direitos humanos, desrespeito à  legislação ambiental, prejuízos financeiros. Eis o balanço parcial da construção das usinas no rio Madeira, em Rondônia.

Desde 2004, depois que Dilma Rousseff inventou o tal Novo Modelo Institucional de Energia Elétrica, a sociedade civil tem alertado para as suas consequências. As usinas do Complexo Madeira, Santo Antônio e Jirau, foram as primeiras a apresentar problemas no processo de licenciamento e os resultados estão aparecendo dia após dia.

A infra-estrutura de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, está caótica, o destino das compensações ambientais não está sendo fiscalizada, a execução dos planos e projetos de mitigações não tem transparência e ninguém sabe a quantas anda o cumprimento das 99 condicionantes das licenças concedidas pelo Ibama às duas usinas – Santo Antônio e Jirau. Será que há um relatório disponível atualizando todas essas questões? A sociedade quer saber e tem o direito de saber.

Os deputados da assembléia legislativa de Rondônia instauraram uma CPI sobre as usinas, em 2010. Sob o disfarce de irregularidades nas obras, a CPI serviu mesmo como pressão para "incentivar" a contribuição das empreiteiras para as campanhas eleitorais.

O governo federal subsidiou a construção das hidrelétricas com recursos do FGTS, com dinheiro do BNDES, do Banco da Amazônia (BASA) e dos fundos de pensão. Incluiu as obras civis num regime especial que dispensa o recolhimento  de PIS e COFINS, o financiamento tem taxa de juros de pai para filho e carência que o comum dos mortais não tem acesso.

Notícias mencionam, por exemplo, um contrato original de Jirau. Há outros? Só se conhece um contrato: aquele celebrado entre a União e o consórcio ESBR, vencedor do leilão, assinado em 13 de agosto de 2008. Alterações ou novos contratos, se existem, carecem de transparência. Se as obras ficariam prontas em 2013 ou 2012, pouco importa. O fundamental é que as ilegalidades que se sucedem no planejamento de hidrelétricas impostas na Amazônia não podem continuar impunes.

E os números? O investimento inicial em Jirau cresceu de R$ 9 bi para R$ 11,9 bi, ou seja, 32% de 2008 para 2010. O presidente do consórcio ESBR, Vitor Paranhos, atribuiu esse aumento desproporcional ao acréscimo de duas turbinas.  


Quem não se lembra da mortandade dos peixes em Santo Antônio, ou dos indígenas isolados fugindo das detonações em Jirau? Exemplos desastrosos que já estão sendo seguidos no processo "goela abaixo" de Belo Monte.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?

Ferrogrão: o que tem por trás dos estudos atualizados pelo Ministério dos Transportes e Infra S/A?   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O que seria um projeto tecnicamente adequado, economicamente viável e ambientalmente equilibrado para o MT e a Infra S.A.? Certamente essa “metodologia” não está tratando disso na atualização dos estudos da Ferrogrão em que minimizam as chamadas subjetividades e maximizam os fatores só importantes para o projeto econômico.   Introdução para atualizar nossa memória sobre o projeto Ferrogrão O projeto da Ferrogrão envolve a construção de uma ferrovia com aproximadamente 933 km para ligar Sinop (MT) ao porto de Miritituba (PA), para escoar, segundo a Confederação Nacional de Agricultura (CNA), até 52 milhões de toneladas de commodities agrícolas por ano. O traçado previsto no projeto é paralelo à BR-163 em que parte está dentro do Parque Nacional do Jamanxim, que é UC Federal. Além disso, o Tribunal de Contas da União (T...

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China

O “desenvolvimento sustentável” no acordo de energia nuclear entre Brasil e China Imagem: Portal Lubes Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   O presidente Lula e Xi Jinping assinaram um acordo (20/11) no qual um dos itens propõe a construção de novas usinas nucleares com tecnologia considerada, no documento, avançada e segura, além de ser um marco importante na cooperação entre Brasil e China. O acordo promete fortalecer a capacidade produtiva e a segurança energética dos dois países, promovendo o desenvolvimento de tecnologias nucleares de ponta. Não esqueçamos que Angra 3 já está caindo de velha, antes mesmo de ser terminada. A construção da usina, localizada no estado do Rio de Janeiro, entrou na sua fase final com a montagem dos componentes principais e instalação do reator nuclear. Angra 3 está em obras desde 30 de maio de 2010 e enfrentou vários atrasos ao longo dos anos. As interrupções aconteceram em 2015 devido a uma revisão do financiamento e investigações ...

A “colonização dourada” idealizada pela China

A “colonização dourada” idealizada pela China   Telma Monteiro, para o Correio da Cidadania   Houve ainda quem mencionasse que esses acordos ajudariam o Brasil a diversificar suas atuais fontes de tecnologias com origem em outros países e reduziriam sua dependência. Me parece mais uma troca de “dependências”, só que no caso da China seria muito mais abrangente e sem retorno. A China não transfere tecnologia em troca de nada. Geralmente Xi Jinping condiciona a investimentos disfarçados em parcerias comerciais. Empresas brasileiras teriam que participar de joint ventures , assimilar e depender da transferência de tecnologia como parte do acordo.   Mais de 100 países já aderiram à Nova Rota da Seda ou Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) [1] . Dos 100 países, 22 são da América Latina. Durante a visita de Lula à China, em abril de 2023, já haviam sido assinados vários acordos para reforçar a cooperação econômica entre os dois países. A China tem pressionado o Brasi...